sábado, 15 de janeiro de 2011

This Is Not A Fashion Blog-sentirei saudades!

A origem das coisas: acho que todo estilista deve ter tido uma mãe que se vestia bem. É assim que a gente aprende, olhando ela se vestir usando os recursos certos, combinando todos aqueles apetrechos que mais tarde a gente vai entender como “moda”.
Uma das minhas primeiras lembranças disso é ver minha mãe se penteando e se pintando logo antes de dormir, de camisola, em frente à penteadeira do quarto. Eu já devia ser muito atento à tudo, e me perguntava: _mas afinal, ela vai dormir, pra quê essa maquiagem? Depois eu percebi que existem coisas bem mais interessantes pra se fazer num quarto do que dormir, mas aquele sentido da “inutilidade” maravilhosamente chique do momento me marcou bastante, e de um modo meio proto-consciente, me fez entender que assim como a arte, a moda não tem função alguma, a não ser a de embelezar o que nossos olhos vêem.
Minha mãe é uma mulher muito bonita. Descendência árabe (na verdade aquela mistura que é a cara brasileira), leonina, sempre foi o centro das atenções. Filha preferida do meu avô, aprendeu desde cedo a ter o próprio trono. E assim foi. Sem nenhuma concessão, era a mais bem vestida nas festas de família. E isso num tempo em que as roupas era feitas em costureiras, ou no caso, por ela mesmo. A moda prét-á-porter brasileira ainda era muito incipiente nos 70′s, e só começou a atingir a grande massa da classe média uma década depois.
Sempre teve talento pra algum tipo de expressão artística, acredito que se tivesse tido a formação necessária, uma origem mais intelectualizada, com certeza seria uma pintora. Mas não deu pra ser assim, e como eu, ela faz das tripas coração pra enfrentar a mediocridade das coisas. Aprendi muito com isso, claro.
Uma das características mais fortes dela era sempre ter um par de sandálias brancas, altas, e usá-las com qualquer cor de roupa. Me lembro que era uma pitada exótica, e não poucas vezes vi minha mãe emprestando as suas pra alguma noiva. Naquela época de tão pouca fartura, quem iria comprar um par de sandálias brancas, a não ser uma pessoa de muita opinião? (Mais tarde vim a saber que a mãe de Saint Laurent -olha que audácia a minha- também tinha as suas, isso nos 40′s, e que em todo desfile dele existia uma sandália assim, em homenagem à ela.)
Devo ter me motivado a fazer esse post porque ontem fui assistir Chanel-Stravinsky, que apesar do enredo bastante romanceado, tem uma direção de arte belíssima, e numa das cenas Gabrielle aparece com um vestido-mantô num tom de creme muito claro, com meias pretas e sandálias brancas: bingo.
Vou falar de três roupas dela que me lembro com mais carinho. A primeira é um vestido de festa azul… não sei bem ao certo a cor, um tom de azul entre o turquesa escuro e o royal, uma cor antiga, bonita. Foi uma das primeiras roupas “comme il faut” que ela fez sozinha. Um tubo muito simples, com um recorte diagonal logo abaixo do busto, onde se encaixava uma faixa de cetim (na verdade, o avesso do tecido). A roupa foi feita com muito capricho, e nesse dia dei pra ela um colar branco bem curto -não à toa, porque obviamente sabia que as sandálias seriam assim- e ficou tudo muito bonito. Uma imagem vintage, mesmo nos 70′s, “fora de moda”. Alguém usando um vestido de vinte anos atrás, como se não fosse nada.
Outro é o indefectível terninho dos 70′s. Minha mãe tinha sido convidada pra ser madrinha -foi madrinha de muitos casamentos e batizados- e comprou um conjunto de blazer e calças compridas em veludo cotelê vinho, com uma camisa feminina de seda, e usou com uma rosa de tecido na lapela. Aquela maquiagem Cosmopolitan, muito blush, muito glitter: pode coisa mais anos 70 do que isso?
O último é o que eu gosto mais de me lembrar, talvez porque tive uma certa interferência na coisa toda. Será que foi um dos meus primeiros modelitos? Era 77, 78, e a moda eram as cores primárias: azul marinho, amarelo e vermelho, tudo junto e misturado. Convenci minha mãe a comprar a Desfile, e vendo as fotos, a fazer imediatamente um tailleur de blazer e saia numa popeline de algodão amarelo ovo com pois pretos. Fomos na loja, compramos o tecido, (não me lembro dos detalhes, mas devo ter acompanhado tudo) e ficou lindo. Em algum aniversário na casa da minha avó, ela usou o tailleur com as sandálias brancas, claro, uma mistura tão anos 40, tão atemporal, gráfica. Talvez o que mais me marcou nessa roupa foi o fato dos bolsos externos do blazer terem um corte arredondado, e como eu acho que ela não sabia arrematar aquilo, simplesmente deixou no fio. Imaginem, uma roupa no fio no final dos 70′s, quinze anos de Kawakubo assustar (e maravilhar) o mundo com seus rasgados.
E eu poderia ser alguma coisa além de um estilista, sendo criado desse jeito?

Quero que você fique em mim como uma tatuagem, dessas que a gente faz na praia num momento de imprudência: bonita, delicada, cheia de promessas. Dessas que a gente esquece que existem, e só se lembra quando precisa provar um lindo vestido de baile, e no decote tão baixo você discretamente se mostra. Quero me lembrar às vezes que carrego você comigo, mesmo que na correia das horas minha cabeça busque outros portos, outras ilhas, outras miragens. Quero carregar você comigo para sempre, e em meu último momento, pensar que te tenho comigo. Afinal.(não lembro o autor, perdão)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Feliz 2011 Ainda que com Atraso




E se a gente se permitisse encantar mais pela imaginação do que pela convenção?
E se a gente prestasse atenção no que tem em volta da gente pra então encontrar sentido nas nossas escolhas – olhar pro que é autenticamente coerente com quem a gente é e com a vida que a gente tem, ao invés de procurar referências em outras pessoas, outros hemisférios, outros círculos de amigos, frequentadores de outras festas? E se a gente absorvesse cores, formas e inspirações do que de mais inusitado tem no nosso universo particular? A noite da virada do ano brindamos com os mais queridos, mentalizarmos pensamentos positivos para o mundo inteiro, atendemos à nossa necessidade de renovação, de trocarmos boas energias para continuar a trajetória. Dispensamos o preto, que adoro, para nos vestirmos de branco, uma lingerie nova, acessórios turquesa, cabelos ao vento da praia ou simplesmente ao ar livre. Na mesa, flores brancas, uvas, lentilha, velas e muitas moedas de chocolate, aquelas que são envoltas por um papel dourado, elas fazem toda a diferença. A cor do próximo ano, o amarelo e toda sua luz.
O segredo do réveillon é estar de bem com a vida para começar o ano novo com o pé direito! Feliz 2011!