Vivos!

Viver de verdade, dá um certo medo e certos sentimentos como solidão, insegurança e tudo isso com a sensação deque o tempo está passando e não somos mais tão jovens, nos deixam mais presos, mais paralisados, mais covardões.

Sim, ainda tem o tal tempo que passa por nós e ainda coloca a língua pra fora.

Que vida…

Pela quantidade de livros de auto ajuda que vejo vendendo nas livrarias, sinto que os humanos tratados como máquinas de produção sem limites, andam meio que sem rumos.

Não é a toa que a turminha do “só durmo com Rivotril”, “tomei um Prozac e fui trabalhar”, ou “querida, meu ortomolecular tem uma receita incrível”, é a turminha mais cool do momento.

Medicina Estética, Psiquiatria, Farmácia, Nutricionista, Personal Trainner e Pai de Santo serão as profissões do futuro.
Porque muita gente destrambelhada e desajustada irá invadir o mundo ou o que sobrar dele.

E talvez, em um futuro não distante, pessoas sentirão falta de sentir solidão, ciúme, ódio, inveja, vingança e tudo aquilo que estamos tentando matar sem viver de qualquer jeito.

Então sinta dor de cotovelos, chore ouvindo músicas, beba um pouco (só um pouco) e dê vexames, mas não abra mão da sua humanidade.

Erre, por favor.
Senão, como viverei?
A comédia vive de erros.
Evandro Santo

REDENÇÃO, CLARO

Não sei se você concorda comigo, mas acho a Norma (Gloria Pires), de Insensato Coração, uma das personagens mais complexas dos últimos tempos. Nunca houve uma mulher como ela nas novelas… Diferente da Flora (Patrícia Pillar), de A Favorita (2008), que enganou a gente durante um bom tempo se fazendo de boazinha; ou a Naomi (Flávia Alessandra), de Morde & Assopra, que o público não sabe se é vilã ou mocinha, Norma está bem definida. É uma mulher cuja vida foi destruída por um homem sem escrúpulos e que não medirá forças para se vingar. Mas como se posicionar frente a uma criatura extremamente bondosa, mas que mente, rouba e mata para alcançar seus objetivos? Difícil…

Analisando friamente, não há dúvida: Norma é uma vilã. Mas os espectadores todos torcem por ela e não veem a hora dela dar uma lição no pilantra do Léo (Gabriel Braga Nunes). Seria Norma, então, uma justiceira? Pode ser. Até agora, os autores da novela, Gilberto Braga e Ricardo Linhares, estão justificando muito bem os atos horríveis cometidos por sua personagem. Vamos lá:


- Primeiro crime: Assassinar Araci (Cristiana Oliveira). Só que todo mundo viu que ela só fez isso porque a presidiária ameaçou: “Quando sair daqui vou te matar. Nem que seja a última coisa que eu faça!”, prometeu Araci. Ou seja: o nesse caso era matar ou morrer. E, claro, Norma optou pela primeira opção e, mesmo assim, ficou abaladíssima.

- Segundo crime: Roubar o “tesouro” de Araci e esfaquear Kátia (Lidi Lisboa). A auxiliar de enfermagem precisava do dinheiro para começar sua caçada ao Léo e só feriu a namorada da falecida presidiária porque foi ameaçada novamente. Mais uma vez teve que reagir para sobreviver. Mas, claro, ficou com a grana…

- Terceiro crime: Na verdade não chega a ser um crime, mas mandar um ciclista atropelar Natalie (Deborah Secco) para ficar amiga da moça, poderia ter acabado em tragédia. Mas Norma não tem limites e vai usar a bonitona para investigar a vida de Léo.

- Futuros crimes: Em breve, Norma vai pagar uma prostituta para seduzir Diogão (Cleiton Moraes) e fazer com que Fabíola (Roberta Rodrigues) expulse o inquilino de seu apartamento. Tudo para conseguir ficar com a vaga dele e se aproximar ainda mais de Natalie e Milton (José de Abreu). Em seguida, ela dopará Fabíola para acompanhar Milton na festa de Bibi (Maria Clara Gueiros), na casa de Cortez (Herson Capri). Ela quer ficar amiga de Bibi para descobrir ainda mais detalhes sobre Marina (Paola Oliveira) e Léo.
Não fica por aí… Para seduzir Teodoro (Tarcísio Meira), ela colocará drogas na mochila do enfermeiro do milionário e avisará à polícia. E, assim, se tornará acompanhante de Teodoro e, futuramente, sua esposa. Até onde eu sei o pior dos crimes de Norma será matar Teodoro, de uma forma muito cruel. Só que, mesmo assim, ela sofrerá terrivelmente.



Tudo isso já credencia a moça a uma vaga cativa no inferno. Muito inteligentemente, Gloria Pires está usando todo o talento que Deus lhe deu, e que ela lapidou durante sua vitoriosa carreira, para envolver o público na rede de sedução de Norma. Gloria está usando sua melhor cara de “boa moça” para fazer da justiceira uma mulher que poderia ser nossa vizinha, uma prima próxima ou sua melhor amiga. Ou seja: gente como a gente. E deixa aquele olhar de desespero, que só ela sabe fazer, para os momentos em que Norma libera todos os seus demônios. E não são poucos… Insensato Coração ainda tem muita estrada pela frente. E Gloria Pires tem muito que nos emocionar/irritar/provocar… Mas, por mim, Norma não poderá ter um final feliz. Uma personagem tão trágica pede um encerramento dramático à altura de suas dores. Mas por você, Norma merece redenção ou castigo? (Jorge Brasil)